Porque nisto consiste o amor a Deus: obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados. (1 Jo 5:3 – NVI)
Aceitar Jesus Cristo como salvador, recusando seu senhorio é, na realidade, não compreender a proposta do evangelho.
Em dois estudos anteriores, discorri a respeito da Vigência da Lei de Deus e do Propósito da lei dos dez mandamentos, que revela o caráter do criador e mostra a vontade deste para os seres humanos. Por isso, sua vigência é eterna e sua aplicação é universal, porque isto é o dever de todo o homem(Ec 12:13). Jesus Cristo é o legislador dessa lei; estava junto do Pai, quando foi escrita em tabuas de pedras. Portanto, ele não veio abolir os mandamentos do Pai, mas veio ensinar a obedecer-lhes. A obediência aos mandamentos é algo exigido aos seguidores de Jesus. Como deve ser essa obediência? É sobre isso que tratarei neste estudo.
Nos evangelhos, Jesus é apresentado não só como Salvador, mas também como Senhor que exige obediência. Na realidade, a Bíblia nunca desvincula essas duas atribuições do Messias. Aceitá-lo como salvador, recusando seu senhorio é, na realidade, não compreender a proposta do evangelho. Foi Cristo quem disse: Se vocês continuarem a obedecer (...) serão, de fato, meus discípulos (Jo 8:31 – NTLH). A obediência à lei de Deus é uma das marcas daqueles que verdadeiramente seguem o Mestre. Mas quais as motivações corretas para o cristão obedecer à lei? Vejamos algumas.
1. Obediência é nosso dever: Está escrito: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é todo o dever do homem (Ec 12:13). Os seres humanos devem honrar e obedecer a Deus. A razão é muito simples: ele os criou. O Altíssimo é o autor e o mantenedor da vida. Todos nós pertencemos a ele e não há nada mais honesto e correto do que servi-lo, obedecendo as suas leis. Contudo, além de nos criar, ele nos salvou da morte eterna. Assim sendo, ao nos rendermos a Cristo, tornamo-nos duplamente dele, porque é o nosso criador e o nosso salvador. Vale lembrar que, ao nos salvar, Cristo torna-se Senhor e Rei de nossas vidas, e nós, os seus servos e súditos. Antes de conhecê-lo, éramos servos do diabo, escravos do pecado, mas ele nos comprou e nos resgatou por um alto preço. Pedro escreveu: ... não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados (...). Mas com o precioso sangue de Cristo (1 Pd 1:18-19). Na visão de João, os quatro seres viventes declararam o seguinte a respeito de Jesus: Tu és digno (...), pois foste morto na cruz e, por meio da tua morte, compraste para Deus pessoas de todas as tribos, línguas, nações e raças (Ap 5:9).
A ideia de que o pecador pode rejeitá-lo como Senhor, mas pode aceitá-lo como Salvador não é, de maneira alguma, o evangelho bíblico e verdadeiro.
O Cordeiro nos resgatou. Agora, ele é o nosso dono. Tudo que somos e temos lhe pertence por direito. Ele é o nosso Senhor e nosso Rei. Se, antes, éramos escravos do mal, agora, somos servos do Senhor Jesus. Deste modo, devemos nos sujeitar ao senhorio de Cristo, cumprindo suas ordens com fidelidade. De fato, a mensagem do evangelho chama pecadores ao arrependimento e clama à obediência a Cristo. A ideia de que o pecador pode rejeitá-lo como Senhor, mas pode aceitá-lo como Salvador não é, de maneira alguma, o evangelho bíblico e verdadeiro. João também afirma: Todo aquele que pratica o pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a transgressão da Lei (1 Jo 3:4). De acordo com essa definição, desobedecer é algo muito mais sério: é insistir em fazer sua própria vontade e contrariar a vontade do Senhor, ou seja, é rebelião contra o rei. Quando desobedecemos deliberadamente à lei de Deus, estamos afrontando o senhorio de Jesus. Todavia, os verdadeiros filhos de Deus não agem assim (cf. 1 Jo 3:9-10). Portanto, a razão primeira para a nossa obediência à lei é o senhorio de Cristo. É bom lembrarmos que a lei de Jesus não é nova (Jo 14:15-24). A lei moral continua a mesma, e nosso dever é obedecer-lhe.
2. Obedecemos por amor: Obediência é um dever de todo cristão, mas isso não é tudo. O nosso bondoso Senhor também nos chama para uma obediência em amor. Foi ele quem disse: Se me amardes, guardareis os meus mandamentos (Jo 14:15). Jesus não deseja um relacionamento conosco tão somente no nível de senhor e escravo. Ele almeja algo mais profundo: quer que sejamos seus amigos: Vocês serão meus amigos, se fizerem o que eu lhes ordeno (Jo 15:14 – NVI). O que significa ser amigo de Jesus? A palavra que aparece aqui (gr. philos) significa mais do que simples amigo: significa, literalmente, “um amigo na corte”, ou seja,um amigo íntimo do rei. [1]
não devemos obedecer apenas porque temos esse dever, mas porque amamos o nosso Senhor e amigo; não porque somos forçados, ou porque temos medo do castigo, como fazem os escravos, mas porque amamos o Senhor e somos-lhe gratos por tudo que ele fez por nós na cruz.
Os amigos do rei tinham liberdade para entrar na sala do trono e conversar com o soberano, sem medo. Tinham intimidade com ele e conheciam os seus segredos. Contudo, continuavam sendo súditos e obedeciam às suas ordens. Assim é nossa relação de amizade com Cristo. Embora obedecer-lhe seja nosso dever, é também a nossa grande alegria e nossa satisfação. Por isso, Jesus falou: Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos (NVI). Observe que essa nossa amizade com Cristo implica amor e obediência. Por amor, Jesus morreu por nós, os seus amigos (Jo 15:13). O apóstolo Paulo afirma que o amor de Cristo nos constrange (2 Co 5:14), isto é, deixa-nos incomodados e impele-nos a corresponder-lhe, levando-nos a um compromisso com o seu senhorio em todas as áreas da nossa vida. [2]
De que maneira? Obedecendo aos seus mandamentos, como ele próprio afirma: Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor (Jo 15:10); Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama (Jo 14:21). Grave isso em sua mente: não devemos obedecer apenas porque temos esse dever, mas porque amamos o nosso Senhor e amigo; não porque somos forçados, ou porque temos medo do castigo, como fazem os escravos, mas porque amamos o Senhor e somos-lhe gratos por tudo que ele fez por nós na cruz.
Agradar esse amigo é uma satisfação. Nesse sentido, longe de ser enfadonha, “a obediência cristã é o vínculo de nosso relacionamento com Cristo e a fonte de nossa mais profunda alegria”. [3] Contudo, vale ressaltar que, por causa da nossa natureza pecadora, nem sempre a obediência será prazerosa. Isso não faz da obediência cristã algo opcional. Devemos obedecer, mesmo que isso não nos traga prazer ou mesmo que não estamos com vontade de fazê-lo. Assim, tanto o nosso amor pelo Senhor quanto nosso senso de dever para com ele devem motivar-nos a cumprir a sua lei.
3. A salvação e a obediência: Vimos, até aqui, duas motivações corretas para a obediência à lei de Deus: o dever e o amor. Agora, trataremos um pouco sobre uma motivação errada que algumas pessoas usam na obediência. Por exemplo, a Bíblia reprova aqueles que usam a obediência à lei como meio de se justificar diante de Deus, como se a obediência os fizesse merecedores da salvação e das bênçãos de Deus. Mas contra esse conceito, está escrito: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie (Ef 2:9).
Somos salvos e aceitos diante de Deus, não porque obedecemos aos mandamentos, mas porque Jesus nos justificou, através de sua morte. A justificação é uma doutrina central da fé cristã. Significa que, por um ato amoroso de Deus, os pecadores são perdoados, declarados inocentes e justos, quando aceitam Jesus como Senhor e Salvador. Como já publiquei em estudo anterior, a justificação nunca é pela lei, mas sempre pela fé na graça divina. Veja o que diz Paulo: Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados (Gl 2:16).
Nesse sentido, ele afirma, em outra passagem: ... vocês não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça(Rm 6:14). Essa expressão “debaixo da lei” ou “sob a lei” repete-se várias vezes nas cartas paulinas, ora aplicada à lei cerimonial, ora aplicada à lei moral; porém, com a mesma ideia. Significa ignorar a cruz e tentar justificar-se, diante de Deus, ou tentar salvar-se, por meio das obras da lei. [4] Esse é um grande equívoco. Somos indignos, e nada do que fizermos nos tornará dignos da salvação. Se guardarmos toda a lei, ponto a ponto, sem tropeçar em nada, ainda assim, devemos dizer: Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever (Lc 17:10).
Por outro lado, existem aqueles que usam a frase “não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça” como se o cristão estivesse desobrigado de obedecer aos mandamentos de Deus. Esse é outro equivoco. De acordo com o apóstolo Paulo (Rm 6:1-2), no que diz respeito aos padrões morais, a graça jamais permitirá o que a lei proíbe, pois “nunca significa o rebaixamento das exigências morais de Deus”. [5] Todos que foram alcançados pela graça têm o dever de obedecer. A obediência à lei moral não é algo opcional, mas um imperativo da palavra de Deus.
É evidente que nossa obediência não nos faz merecedores e dignos de salvação. Contudo, o novo nascimento produzirá, de maneira inevitável, a obediência. Ainda que esta jamais seja uma condição para sermos salvos, sempre será uma consequência da salvação. Por isso, a Bíblia apresenta a obediência à lei de Deus como um distintivo dos verdadeiros seguidores de Cristo: Aquele que diz: Eu conheço-o e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está à verdade (1 Jo 2:4).
APLICANDO A PALAVRA DE DEUS EM NOSSA VIDA
Obedecer significa dar atenção adequada à Lei de Deus. Não obedecemos por medo do castigo, mas por amor e gratidão. Deus nos amou e provou isso, através da cruz. Como podemos corresponder a esse amor? A resposta é simples: fazendo a vontade dele, como nos ensina João: A prova de que amamos a Deus está na guarda de seus mandamentos, e eles não nos são difíceis (1Jo 5:3 – AM). Portanto, se queremos agradar a Deus, devemos levar a sério sua lei. É preciso conhecê-la profundamente e praticá-la com um coração piedoso. A obediência deve ser feita com muita dedicação e atenção adequada. À semelhança do salmista, devemos amar a lei de Deus (Sl 119:97), pois é isso que fazem os filhos de Deus; o prazer deles está na lei do Senhor, e nessa lei eles meditam dia e noite (Sl 1:2 – NTLH).
Devemos confiar em que o próprio Deus nos ajuda a cumprir a Sua Lei. Segundo Paulo, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom (Rm 7:12). Para o salmista, a lei do Senhor é perfeita (Sl 19:7). Portanto, nós, que somos pecadores e limitados, teremos sempre uma obediência imperfeita. Não somos capazes de obedecer à lei de Deus por nós mesmos. Aquilo que conseguimos fazer é porque Deus nos ajuda. Veja a linda promessa feita por Jesus: ... o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse (Jo 14:26). Aquele que está sempre conosco nos ajuda a cumprir a lei. Escrito está: E o Espírito Santo tem operado no coração de vocês, purificando-o com o sangue de Jesus Cristo e fazendo-os desejosos de agradar-lhe (1 Pd 1:2 – BV). Até mesmo a nossa obediência é pela graça. Carecemos de um auxílio necessário. Saber dessa verdade deixa-nos mais humildes e livra-nos do legalismo.
CONCLUSÃO
A graça não nos isenta de obedecer à lei de Deus. Ao contrário, prepara-nos para essa obediência. Guardar a lei é uma das marcas dos seguidores de Cristo e a prova de que foram feitos filhos de Deus. Obedecemos porque é nosso dever. Mas ainda há outra razão: o amor e a gratidão que nutrimos por nosso Senhor. Ele é nosso amigo, e agradar-lhe é nossa grande alegria. Não o fazemos por medo ou por força coerciva, mas por amor. Sabemos que nada que façamos por ele pagará o que ele fez por nós. O preço é alto demais. É impagável. Somos salvos pela graça. Obedecemos, não para sermos salvos, mas porque ele já nos salvou. Na verdade, até para obedecer-lhe precisamos da sua ajuda. Assim sendo, obedeçamos à lei com a dedicação exigida e com o auxílio necessário.
E você, qual a sua opinião?
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